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sexta-feira, 25 de março de 2011

Dengue tipo 4 deve chegar ao RN ‘com força’

Os números de dengue no Estado aumentaram mais de 700% em 2011, em relação ao mesmo período de 2010, e os hospitais começam a lotar com uma quantidade cada vez maior de pacientes chegando com suspeitas da doença. Se o cenário já não é positivo, uma má notícia piora ainda mais a situação: o surgimento de casos da dengue tipo "4" espalhados por todo o Brasil.

De acordo com o infectologista Luiz Alberto Marinho, só não se sabe ainda quando esse novo sorotipo irá atingir o Rio Grande do Norte, mas é possível ter duas certezas a respeito: vai chegar e com muita força. A expectativa do especialista é que aumente não só a ocorrência da chamada dengue clássica, como também amplie bastante os riscos de os potiguares sofrerem com a dengue hemorrágica.

Mesmo ainda sem o surgimento do novo sorotipo no Estado, os números dos hospitais confirmam um crescimento acelerado da epidemia. "Temos percebido um aumento agressivo desde janeiro. Somente até o dia 22, já tivemos neste mês 370 casos suspeitos de dengue chegando ao hospital, enquanto em todo o mês de março de 2010 se limitou a 84", compara a diretora geral do Giselda Trigueiro, Milena Martins.

Segundo ela, um aumento ainda mais "absurdo" vem sendo observado com relação aos casos suspeitos da chamada dengue hemorrágica. Foram 65 neste mês, contra apenas um caso em 2010. "Isso nos preocupa bastante", reconhece a diretora. O hospital tem hoje 29 leitos que podem ser ocupados por pacientes da doença e quando não há vagas, eles são mantidos no pronto-socorro.

Milena Martins explicou que já vem discutindo com a Secretaria Estadual de Saúde (SESAP) a ampliação do número de leitos na rede hospitalar, já que os doentes de dengue não precisam necessariamente serem internados no Giselda Trigueiro, para onde deveriam ir apenas os casos mais graves. "Temos uma grande dificuldade com casos ambulatoriais que deveriam ser atendidos nos postos de saúde, mas terminam aqui. Por isso é fundamental estruturar os postos para esse atendimento", reforça.

No Hospital dos Pescadores, em Mãe Luiza, os números do Núcleo de Epidemiologia apontaram 43 casos suspeitos em janeiro e 29 em fevereiro. Somente nos primeiros 23 dias de março, a quantidade já pulou para 105.

Paciente relata sofrimento com a doença
Ele mesmo achava praticamente impossível, mas sentiu na pele o poder destrutivo da dengue. O comerciante ambulante Josinaldo Salviano, de 44 anos, enfrentou uma temperatura corporal equivalente à idade, devido à doença. "Com 44 graus, lá no Hospital dos Pescadores, eu já comecei a delirar, não sabia nem onde estava", aponta.

Internado no Hospital Giselda Tri-gueiro, desde terça-feira, o comerciante diz que começou a sentir os sintomas no dia 16. "Fui ao médico, no Hospital dos Pescadores, onde me deram uma injeção e depois mandaram eu voltar para casa, para ir acompanhando a evolução, já que era uma suspeita", recorda. Exames realizados diariamente revelaram o agravamento do quadro e a internação foi inevitável.

"Tive 44 graus de febre um dia, 42 no outro, além de vômitos e dores de cabeça", lista. No meio desta semana, quando imaginava que já estava próximo da liberação, o paciente "cuspiu sangue", o que exigiu o aumento dos cuidados e a ampliação do prazo de tratamento. "Já tomei uns 100 litros de soro. Ia sair (ter alta) na sexta-feira, mas agora, devido ao sangue, só lá para segunda ou terça."

Mesmo fora do hospital, Josinaldo Salviano ainda terá de passar de cinco a dez dias de repouso, longe do instrumento de trabalho, um carrinho de lanches que agora vem sendo administrado pela esposa e os filhos. "Precisa o governo ver esses terrenos baldios. Lá em Ponta Negra tem um monte. Gente que fecha o terreno, vai embora e só volta cinco anos depois. Era para a Prefeitura notificar, mandar limpar e ter uma lei severa que punisse", defende.

Nas ruas próximas à sua residência, ele diz já ter informações de pelo menos oito casos da doença. "E pelo jeito isso não vai acabar é nunca. E se vier esse tipo novo de dengue aí é que ninguém vai ficar em pé", lamenta.

Dengue tipo 4
Apesar de notícias do surgimento da dengue tipo "4" em Estados como Bahia, Piauí e Rio de Janeiro já terem sido divulgadas, até a última quarta-feira o Ministério da Saúde reconhecia oficialmente apenas os casos no Amazonas (11), Pará (3) e Roraima (4), pois já foram confirmados pelo Instituto Evandro Chagas. Os dois casos do RJ foram analisados pela Fiocruz e os dos dois Estados nordestinos ainda estão sob análise. Pessoas que já sofreram com dengue dos tipos "1", "2" ou "3" podem não só pegar a dengue do tipo "4", como também desenvolver a doença de forma mais grave. O vírus "4" não é mais agressivo, porém a população brasileira não está imune, já que o sorotipo não circula no Brasil há 28 anos. Os casos mais recentes começaram a aparecer no estado de Roraima, em julho do ano passado. Em janeiro e fevereiro de 2011, 82% da dengue confirmada no Brasil foi do tipo "1".

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