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RN tem mais de 573 mil analfabetos
De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2009, 14,1 milhões de brasileiros são analfabetos, cerca de 9,7% da população do país. No Rio Grande do Norte, o percentual de iletrados é duas vezes maior que a taxa nacional - chega a 18,1%. Para mais de 573 mil potiguares, ler um simples bilhete não é tarefa fácil. Jackson Guardiano da Silva faz parte dessa estatística.
Aos 31 anos, ele não sabe ler nem escrever. Mas aprendeu "na marra", como diz, por necessidade, a lidar com a matemática. Desde os 12 anos de idade ele é cobrador de alternativo. Trabalha das 5h às 14h, de segunda a sábado, na linha Pajuçara-shopping. "Acho que já me adaptei. Sempre fui desenrolado na matemática e enquanto estiver trabalhando e me sustentando direitinho está tudo bem", disse.
Como cobrador, ele ganha menos de um salário mínimo. "Sempre quis estudar, mas dentro de mim existe uma trava. Não consigo. Acho que a ficha só vai cair quando alguém chegar e disser que não vou mais poder trabalhar". Jackson contou ainda que chegou a frequentar duas escolas, na cidade onde nasceu, São Miguel do Gostoso, ainda criança, mas não passou três meses estudando.
"Eu tinha preguiça de estudar e também a gente tinha muita dificuldade, então procurei vir para Natal para buscar trabalho", relembrou. No trabalho, ele disse que desenrola tudo com facilidade, mas no dia a dia, as dificuldades não são poucas. "Eu vejo que cada dia está mais difícil, até para assinar o nome. Como não treino, pouco sei assinar o primeiro nome, então quando fica pesado empurro o dedo".
As perspectivas de futuro profissional são mínimas. "Tem muita gente que procura me ajudar. Outros empregos melhores até aparecem, mas não consigo pegar", contou. Há seis meses, ele fez uma viagem a São Paulo. "Quando cheguei lá fiquei todo enrolado, sem jeito. Não conseguia ler nada e a pessoa fica desorientada. Liguei para minha família lá e eles foram me pegar", relembrou. Jackson disse que adorou a cidade. "Até apareceu emprego, mas não tinha como eu ficar, por não saber ler e escrever".
Quanto ao futuro, Jackson tem poucas certezas. "As pessoas sempre me trataram bem, nunca senti preconceito, mas às vezes fico triste. Paro e fico pensando porque não consigo aprender. Já pensei até em pagar uma professora particular, mas depois desisto. Procuro seguir em frente, sem pensar muito, mas sei que mais para frente vai ficar mais complicado", resumiu o que sente.
Alfabetização com profissionalização
Há 50 anos, o educador Paulo Freire criava em Natal a campanha "De pé no chão também se aprende a ler". Na época, em 1961, o desafio era alfabetizar crianças pobres em escolas de chão batido. Pouco tempo depois, essa semente ampliou no Rio Grande do Norte o sistema Paulo Freire de alfabetização de jovens. Mas somente em 1999, com o primeiro Plano Nacional de Educação, surgiu o programa Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Passados dez anos da implantação do EJA (2001), o maior desafio, no campo da educação de jovens e adultos, é reduzir a evasão. Nessa perspectiva, diz o subcoordenador da Educação de Jovens e Adultos, da Secretaria Estadual de Educação e Desportos (SUEJA/SEED), Joaquim Oliveira, que a saída é associar à educação básica e média a profissionalização.
"Assim vamos fazer com que os alunos permaneçam em salas de aula", disse o subcoordenador. Segundo ele, em alguns períodos do ano, quando aumenta a demanda de vagas no mercado de trabalho, a evasão chega a 50%. No Rio grande do Norte, 32.200 pessoas foram alfabetizadas em 2010, em quase 70 escolas estaduais e conveniadas. A adesão é maior, reconhece Joaquim, no Brasil Alfabetizado.
Segundo ele, o Estado tem feito esforços para aumentar a educação inclusiva e reduzir os números do analfabetismo. "Em 2010, tivemos uma experiência de associar um curso de eletricidade ao EJA e os resultados foram os melhores, com desistência zero", disse Joaquim Oliveira. Essa perspectiva de criar cursos profissionalizantes à educação de jovens e adultos foi um dos principais pontos do seminário do Fórum Potiguar de EJA.
O seminário aconteceu nos dias 15 e 16. "Nossa preocupação é que essas pessoas tenham não só o mínimo domínio da leitura, do cálculo e da ciência, mas que resgatem sua cidadania, sua vida social, sejam reconhecidas e valorizadas", afirmou. Segundo ele, outra preocupação é evitar que o EJA se torne o caminho mais curto para o jovem concluir os estudos. "Estamos estudando como impedir que o jovem largue os estudos e tempos depois ingresse no EJA somente porque vai concluir o ensino fundamental ou médio em um ano".
Entre 2000 e 2009 a taxa de analfabetismo no Brasil caiu de 13,63% para 9,7%. No Estado, a taxa caiu no mesmo período de 25,43% para 18,1%. Os resultados não chegam a ser comemorados pela professora da Uerj Jane Paiva, que participou como palestrante do Fórum Potiguar de EJA. "O direito à educação está constituído. Isso não se discute. É um direito legal, mas ele não se faz na prática para todos", afirmou a professora-doutora, enfatizando que "não há mais tempo para postegar esse direito".
Aos 31 anos, ele não sabe ler nem escrever. Mas aprendeu "na marra", como diz, por necessidade, a lidar com a matemática. Desde os 12 anos de idade ele é cobrador de alternativo. Trabalha das 5h às 14h, de segunda a sábado, na linha Pajuçara-shopping. "Acho que já me adaptei. Sempre fui desenrolado na matemática e enquanto estiver trabalhando e me sustentando direitinho está tudo bem", disse.
Como cobrador, ele ganha menos de um salário mínimo. "Sempre quis estudar, mas dentro de mim existe uma trava. Não consigo. Acho que a ficha só vai cair quando alguém chegar e disser que não vou mais poder trabalhar". Jackson contou ainda que chegou a frequentar duas escolas, na cidade onde nasceu, São Miguel do Gostoso, ainda criança, mas não passou três meses estudando.
"Eu tinha preguiça de estudar e também a gente tinha muita dificuldade, então procurei vir para Natal para buscar trabalho", relembrou. No trabalho, ele disse que desenrola tudo com facilidade, mas no dia a dia, as dificuldades não são poucas. "Eu vejo que cada dia está mais difícil, até para assinar o nome. Como não treino, pouco sei assinar o primeiro nome, então quando fica pesado empurro o dedo".
As perspectivas de futuro profissional são mínimas. "Tem muita gente que procura me ajudar. Outros empregos melhores até aparecem, mas não consigo pegar", contou. Há seis meses, ele fez uma viagem a São Paulo. "Quando cheguei lá fiquei todo enrolado, sem jeito. Não conseguia ler nada e a pessoa fica desorientada. Liguei para minha família lá e eles foram me pegar", relembrou. Jackson disse que adorou a cidade. "Até apareceu emprego, mas não tinha como eu ficar, por não saber ler e escrever".
Quanto ao futuro, Jackson tem poucas certezas. "As pessoas sempre me trataram bem, nunca senti preconceito, mas às vezes fico triste. Paro e fico pensando porque não consigo aprender. Já pensei até em pagar uma professora particular, mas depois desisto. Procuro seguir em frente, sem pensar muito, mas sei que mais para frente vai ficar mais complicado", resumiu o que sente.
Alfabetização com profissionalização
Há 50 anos, o educador Paulo Freire criava em Natal a campanha "De pé no chão também se aprende a ler". Na época, em 1961, o desafio era alfabetizar crianças pobres em escolas de chão batido. Pouco tempo depois, essa semente ampliou no Rio Grande do Norte o sistema Paulo Freire de alfabetização de jovens. Mas somente em 1999, com o primeiro Plano Nacional de Educação, surgiu o programa Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Passados dez anos da implantação do EJA (2001), o maior desafio, no campo da educação de jovens e adultos, é reduzir a evasão. Nessa perspectiva, diz o subcoordenador da Educação de Jovens e Adultos, da Secretaria Estadual de Educação e Desportos (SUEJA/SEED), Joaquim Oliveira, que a saída é associar à educação básica e média a profissionalização.
"Assim vamos fazer com que os alunos permaneçam em salas de aula", disse o subcoordenador. Segundo ele, em alguns períodos do ano, quando aumenta a demanda de vagas no mercado de trabalho, a evasão chega a 50%. No Rio grande do Norte, 32.200 pessoas foram alfabetizadas em 2010, em quase 70 escolas estaduais e conveniadas. A adesão é maior, reconhece Joaquim, no Brasil Alfabetizado.
Segundo ele, o Estado tem feito esforços para aumentar a educação inclusiva e reduzir os números do analfabetismo. "Em 2010, tivemos uma experiência de associar um curso de eletricidade ao EJA e os resultados foram os melhores, com desistência zero", disse Joaquim Oliveira. Essa perspectiva de criar cursos profissionalizantes à educação de jovens e adultos foi um dos principais pontos do seminário do Fórum Potiguar de EJA.
O seminário aconteceu nos dias 15 e 16. "Nossa preocupação é que essas pessoas tenham não só o mínimo domínio da leitura, do cálculo e da ciência, mas que resgatem sua cidadania, sua vida social, sejam reconhecidas e valorizadas", afirmou. Segundo ele, outra preocupação é evitar que o EJA se torne o caminho mais curto para o jovem concluir os estudos. "Estamos estudando como impedir que o jovem largue os estudos e tempos depois ingresse no EJA somente porque vai concluir o ensino fundamental ou médio em um ano".
Entre 2000 e 2009 a taxa de analfabetismo no Brasil caiu de 13,63% para 9,7%. No Estado, a taxa caiu no mesmo período de 25,43% para 18,1%. Os resultados não chegam a ser comemorados pela professora da Uerj Jane Paiva, que participou como palestrante do Fórum Potiguar de EJA. "O direito à educação está constituído. Isso não se discute. É um direito legal, mas ele não se faz na prática para todos", afirmou a professora-doutora, enfatizando que "não há mais tempo para postegar esse direito".
